segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Remoção do Museu do Índio: Governo do Rio recua

(Tânia Rêgo / ABr)
Governo do estado do Rio recua e decide manter o prédio do Museu do Índio, no Maracanã, zona norte do Rio. 

“O estado ouviu as considerações da sociedade a respeito do prédio histórico, datado de 1862, analisou estudos de dispersão do estádio e concluiu que é possível manter o prédio no local." 

Entretanto, tal decisão só ocorreu dois dias depois que a Justiça concedeu liminar à Defensoria Pública do Estado impedindo a demolição museu, localizado ao lado do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã.

Os dois gestores, governador Sérgio Cabral e prefeito do Rio, Eduardo Paes, irão declarar o tombamento do imóvel e definir qual será a destinação do mesmo. A restauração do prédio, de acordo com o governo estadual, ficará a cargo da empresa que vencer a licitação para as obras do Complexo do Maracanã, cujo edital sairá em fevereiro.

Mas, este recuo não vai sair  barato: a nota diz ainda que  “o governo está tomando às devidas providências para que o local seja desocupado dos seus invasores”. É bom lembrar que desde 2006, o prédio é ocupado por índios que deram o nome ao local de Aldeia Maracanã. 

O grupo está reunido para discutir a decisão do governo do estado, informou um dos líderes do grupo, Afonso Apurinã.

Fonte: Agência Brasil

Foi mal…

Não há preconceito racial no Brasil. Tudo não passa de mal-entendido... Esta é a resposta padrão de quem é pego em uma das incontáveis cenas cotidianas de discriminação, evidência de legado brasileiríssimo: o racismo velado.
Em São Paulo, a maternidade Santa Joana publica em seu site informações aos futuros pais. Em um dos textos, há dicas para mães que querem alisar os cabelos crespos da filhas: “Muitas crianças nascem com os cabelos crespos ou rebeldes demais. Com a adesão cada vez maior às técnicas de alisamento, algumas mães recorrem a essas alternativas para deixarem as crianças mais bonitas.” Isso, você leu “mais bonitas”. E o que são cabelos “rebeldes demais”? Com a repercussão da história, o hospital retirou o post do ar.
Em Campinas (SP), policiais da PM que atuam em bairro nobre cumprem a determinação de abordar “indivíduos em atitude suspeita, em especial os de cor parda e negra”. A orientação consta de ordem de serviço assinada pelo comandante do batalhão, e se tornou pública graças à repórter Thais Nunes, do “Diário de S.Paulo”. O Comando da PM nega teor racista na determinação, dizendo que apenas descreve suspeitos de furto na região. Pode ser, mas a reportagem pediu documento semelhante, em que o alvo das abordagens fossem suspeitos brancos. Não obteve resposta.
No Rio de Janeiro, uma família vai a uma concessionária da BMW em busca de um carro novo. O casal, pais de cinco filhos, estão acompanhados do caçula, adotivo e negro. Enquanto conversavam com o gerente de vendas, o garoto se aproxima do pai, quando é enxotado pelo funcionário da loja. “Eles pedem dinheiro e incomodam os clientes”, justifica-se, ignorante da situação. Naturalmente, os futuros compradores deixaram a loja atônitos, e buscam retratação pública.
Claro que nos três casos tudo não se passou de “mal-entendido”, como explica representante da concessionária em e-mail enviado aos pais. Ora, a maternidade também diz que “não foi sua intenção ofender qualquer pessoa", e o comando da PM paulista reconhece um "deslize de comunicação" (deixaram escapar o que, aliás, já se sabe). A lógica do discurso do mal-entendido é a do “deixa disso”, de que só mesmo sendo muito melindroso para se ofender. “Coisa de complexado, né?”.
Ocorre que não só existe racismo no Brasil como nos esforçamos em ignorá-lo, tamanha é a força persuasiva da ideia de que o último país escravocrata do continente possa ser livre de preconceito racial sem encarar sua herança. Engano persistente desde a origem do mito fundador nacional, que vinga como solução imaginária para tensões de uma nação formada de maneira autoritária, de cima para baixo.
Contra esse papinho do mal-entendido, os pais do menino carioca criaram uma página no Facebook:“Preconceito racial não é mal-entendido. É crime”. Simples assim.
Fonte: Por Michel Blanco | Putz – sáb, 26 de jan de 2013